Histórias de Moradores de São Leopoldo

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores de São Leopoldo.


História do Morador: Anderson Vieira de Souza
Local: Rio Grande do Sul
Publicado em: 22/09/2005

Sessão 56 é o Movimento de São Leopoldo

História:

P - Queria que você começasse dizendo seu nome completo.

R - Meu nome é Anderson Vieira de Souza.

P - Você nasceu aonde?

R - Cidade de São Paulo.

P - Qual a data de nascimento?

R - 10/9/85.

P - 10/9/85. Então vamos lá começar a entrevista. Queria que você contasse para a gente, você veio aqui no Congresso, por quê?

R - Eu vim no Congresso sobre da questão do Movimento dos Papeleiros, Catadores de Recicláveis do Rio Grande do Sul, no Brasil, aqui ao qual nós estamos no movimento, no Fórum Mundial aqui estamos representando a sessão 56 que é o Movimento de São Leopoldo, de Porto Alegre.

P - E você é catador?

R - Eu sou presidente de uma cooperativa.

P - Presidente da cooperativa?

R - Presidente da cooperativa dos catadores de lixo.

P - Mas você é catador também?

R - Sou catador de lixo também.

P - Você é catador há quanto tempo?

R - Há 12 anos.

P - 12 anos?

R - É.

P - Como você começou?

R - Comecei através na rua cuidando de carro.

P - Cuidando de carro? E aí como que?

R - Aí depois eu fui para uma entidade, para um albergue e conheci meninos e meninas de rua, depois saímos, fomos morar na cidade de Porto Alegre e ali nós fizemos um grupo e montamos nossa associação que é a dos Papeleiros de Porto Alegre e São Leopoldo.

P - E você começou a cuidar de carro com que idade?

R - 5 anos de idade.

P - 5 anos?

R - 5 anos de idade.

P - E você cuidava sozinho?

R - Sozinho. Eu e mais uma equipe de colegas de ruas.

P - Amigos?

R - Amigos.

P - Aí você vigiava carro...

R - Vigiava carro para ganhar um, ou uma gorjeta do dono do veículo para poder sobreviver, para poder se alimentar, no outro dia tivesse o que comer.

P - Você morava onde?

R - Na rua.

P - E você catava papel, catava...?

R - Catava pet, papel, jornal, litro, garrafa, osso, cobre. Tudo que desse para sobreviver, para vender, que no outro dia fizesse para sustentar nós, meninos de ruas e catadores de lixos.

P - E você vendia para quem?

R - Vendia para uma reciclagem que fica no bairro Roselândia, Novo Hamburgo.

P - E você ficou fazendo esse trabalho por muito tempo?

R - Até hoje.

P - Qual foi a coisa mais interessante que você achou no meio do lixo?

R - Mais interessante que eu achei no meio do lixo foi a comida.

P - Comida?

R - A comida, o alimento.

P - O que você encontrava?

R - O que eu achei interessante que nós passamos na cidade, no Brasil, e ali nós achamos muitas coisas que os mercados públicos, as empresas colocam fora onde que deixa para nós catar, fazer uma reciclagem para nós poder se alimentar.

P - E hoje você faz parte de uma associação, você falou?

R - São Leopoldo.

P - Em São Leopoldo?

P - Você mora em São Leopoldo faz quanto tempo?

R - São Leopoldo. Faz 14 anos. Eu vim de São Paulo com 5 anos de idade.

P - 5 anos. Por que você veio para cá?

R - Eu vim porque eu era usuário de drogas na cidade de São Paulo e vim morar aqui, fazer parte do Movimento dos Meninos e Meninas de Ruas ao qual nós montamos a nossa cooperativa. Hoje somos entre 455 papeleiros na nossa associação, 104 meninos de rua na nossa cooperativa.

P - Agora você mora onde?

R - Agora nós moramos em uma entidade onde fica na Vila dos Tocos, é uma casa abandonada.

P - Casa abandonada?

R - Casa abandonada.

P - Você mora com quem?

R - Eu e outros colegas.

P - De trabalho?

R - De trabalho.

P - São todos catadores?

R - Todos catadores.

P - E você veio para cá, de São Paulo, com quem?

R - Eu vim através da minha tia e do Conselho Tutelar.

P - Da sua tia? E sua tia mora onde?

R - Mora em São Paulo.

P - São Paulo. E ela não veio para cá junto com você?

R - Não veio.

P - E você tem contato com ela ainda?

R - Não, não tenho contato com ela.

P - Mais.

R - Não tenho, faz anos.

P - E o que você sentiu, como foi chegar em São Leopoldo?

R - Como que eu fui chegar em São Leopoldo?

P - Não, como foi chegar? Você chegou...

R - A chegada foi meio tristeza porque quando nós chegamos na cidade, no município aqui em São Leopoldo, no estado do Rio Grande do Sul, nós passamos uns anos de violências e uns anos passamos fome porque não tinha o que comer, nós morávamos na rua. Ali nós passamos uns anos em umas entidades, depois fomos para a rua ao qual nós montamos nossa cooperativa e estamos até hoje, no ano 2005, aqui em São Leopoldo.

P - Como foi montar a cooperativa?

R - Nós fomos montar nossa cooperativa ao qual teve o Fórum Mundial no ano de 2002, na cidade município de Porto Alegre ao qual foi discutido o movimento que foi levado ao Presidente da República ao qual foi discutido o movimento do menino, criança, adolescente em risco, de rua, e da pessoa que é juntador de reciclagem que é na rua, não juntador de papelão, de reciclagem - que é falta de respeito juntador de papelão. Juntador de reciclagem.

P - Daí lá no Fórum vocês começaram? R –No Fórum Mundial foi discutido com pessoas do Governo, com pessoas do Governo do Estado, Governo Federal, foram discutidos ao qual nós andava aqui na cidade de Porto Alegre, no município de São Leopoldo, ao qual a Fome Zero, que nós andávamos passando aqui no Rio Grande do Sul. Então no Fórum Mundial foi falado com o antigo governo que era do Fernando Henrique ao qual foi montado um projeto no Rio Grande do Sul, em dois meses o antigo governador Olívio Dutra deveria montar uma casa de reciclagem na Avenida Farrapos, em um bairro de Porto Alegre, que desse para a gente morar e pudesse se alimentar e fazer um curso de artesanato e um curso de mecânica. Só que não deu certo o nosso projeto que ele cortou verba do Governo.

P - Entendi. E hoje em dia o que você acha do movimento?

R - Hoje em dia o que eu acho do movimento? Do Fórum Mundial? Eu acho que do Fórum Mundial nós temos que discutir do Brasil, eu acho que nós temos que trabalhar mais no Fórum Mundial com os meninos de rua, com crianças, adolescentes em risco, de rua, que sofrem a violência da sua família dentro de sua casa, porque o pai e a mãe é desempregado, e ele não tem, ele é analfabeto, então não tem como sobreviver, não tem como trabalhar, ao qual chega no ponto do pai e a mãe botar na sinaleira para pedir. Acho que o Fórum Mundial tinha que ser discutido nos próximos anos de 2005, neste Fórum Mundial que está sendo começado, para discutir esses projetos.

P - Legal. E como está sendo encontrar tantos catadores aqui no Congresso?

R - Nós estamos sendo encontrados, estamos fazendo, indo para o Fórum Mundial na próxima quinta-feira, vamos passar o dia todo com 345 papeleiros de rua de São Leopoldo, 400 de Porto Alegre, 200 guris de rua, vamos gingar as capoeiras e vamos discutir os casos nossos com a sociedade no Fórum Mundial.

P - Legal. Muito obrigada pela sua entrevista. Tem mais alguma coisa que você gostaria de dizer?

R - Nós queria agradecer todos vocês pela atenção, como é o nome de vocês duas?

P - Olívia.

R - Olívia...

P - E Carol.

R - Olívia e Carol, o Movimento dos Papeleiros de Rua de São Leopoldo e o Movimento dos Papeleiros de Rua de Porto Alegre da nossa cooperativa agradecem a vocês da entrevista que vocês estão fazendo, ao qual próximo daqui a um mês sai na internet. E na internet ser falado no Brasil, nós queremos atenção de todas as empresas grandes e dos depósitos no Brasil ao qual possa conversar com a gente dia-a-dia aqui a discussão que nós estamos aqui, porque sexta-feira retrasada o prefeito atual, Waldir Schmidt, de São Leopoldo entrou com uma ação para destruir a nossa cooperativa aqui que o governador, candidato a prefeito de Porto Alegre chamou no Fórum Mundial, que éramos criminoso e que eram bandidos e que eram seqüestradores, então nós fomos ofendidos porque nós somos papeleiros, não queremos violência, mas queremos nossos direitos.

P - Muito obrigada pela sua entrevista, foi ótima.

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